Notícias

Lata d'água na cabeça é rotina para os moradores de N. Sra. das Graças

Denúncia do presidente da Associação dos Moradores da comunidade de Nossa Senhora das Graças, revela que centenas de moradores de pelo menos cinco ruas pagam e não recebem água em suas casas


23/03/2012 - Edição 1564

Todos os dias, os moradores da Travessa dos Lírios sofrem para buscar água na parte mais baixa do morro
Todos os dias, os moradores da Travessa dos Lírios sofrem para buscar água na parte mais baixa do morro

Denúncia do presidente da Associação dos Moradores da comunidade de Nossa Senhora das Graças, revela que centenas de moradores de pelo menos cinco ruas pagam e não recebem água em suas casas. Para ter um pouco do precioso líquido eles recorrem à boa vontade dos vizinhos da parte mais baixa do morro. Mulheres e crianças fazem cansativas caminhadas para armazenar água em baldes e outros recipientes que ficam espalhados dentro de casa. Josemar Salles garante que o problema se arrasta há anos sem solução, e tudo fica mais difícil no verão quando a situação piora. Falta água para a rotina diária desde a higiene dos moradores como para fazer comida. Nos Bancários, a situação também é grave e diversas casas só recebem água uma vez por semana e por apenas algumas horas.

 

Há quatro meses que os moradores da região conhecida como coroado na comunidade Nossa Senhora das Graças não sabem o que é ter água na torneira de casa. São centenas de pessoas que passam o dia subindo a ladeira com baldes de água para abastecer a cisterna e assim realizar tarefas simples como tomar banho, preparar a comida, escovar os dentes e lavar as roupas. O problema atinge as ruas Ademar, São José, Flores e a Travessa dos Lírios, que é a mais prejudicada.

 

 

De acordo com Josemar Sales, presidente da Associação de Moradores, duas bombas são responsáveis por levar água aos moradores da comunidade, contudo a quantidade não é suficiente para os moradores das seis mil casas da Nossa Senhora das Graças.

 

– As bombas ficam nas ruas Ibatuba e Visconde de Lamare, que são as principais aqui da comunidade, mas o problema é que elas não têm pressão para levar água às ruas que ficam nos pontos mais altos. A gente ainda tenta resolver, fechando o registro das ruas de baixo por algumas horas, para ver se assim a água consegue chegar aos moradores de cima, mas na região do Coroado fica impossível – explica Josemar, que é conhecido pelo apelido Pedro. Ele conta que os moradores pagam a Cedae uma taxa no valor de R$ 9 para ter água.

 

Ivanildo Quirino dos Santos mora com a família há 30 anos na Rua Ademar e diz que o drama da falta de água aumentou muito no último verão. "Quando a gente mais precisa de água para tomar banho e beber, o problema piora. Todos os dias temos que sair com baldes e contar com a solidariedade dos vizinhos", conta Ivanildo enquanto mostra o reservatório de água vazio. O pai, Agenor Quirino dos Santos pensa até em se mudar.

 

– Já não aguento mais a situação, mas até para vender o barraco é difícil porque ninguém quer morar onde não tem água. Em alguns dias nós somos avisados que a água vai cair na torneira, mas nunca sabemos o horário. Com isso ficamos acordados de castigo até de madrugada esperando a água descer para encher os baldes. É uma tortura – se queixa.

 

Luzia Soares tem 59 anos e com problemas no joelho muitas vezes não consegue caminhar pelo atalho até a Rua Milton Carlos para buscar água. Com isso seus netos já ficaram sem tomar banho. "Me sinto privada dos meus direitos como cidadã, pago pela água e tenho direito de ter. Já deixei meus netos sem beber e sem comer por isso. É um sofrimento ter que viver nesta situação", desabafa Luzia que mora há 33 anos na Travessa dos Lírios. A Cedae informou ao Ilha Notícias que vai enviar técnicos para tentar uma solução.