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Tubiacanga em pânico com demolições

Na manhã da última sexta-feira (2), duas casas e uma igreja em construção foram demolidas na Rua 90, em Tubiacanga. A ação começou por volta das 8h ...


09/12/2011 - Edição 1549

Na frente dos escombros da sua casa, Yvonete mostra documento do imóvel
Na frente dos escombros da sua casa, Yvonete mostra documento do imóvel

Na manhã da última sexta-feira (2), duas casas e uma igreja em construção foram demolidas na Rua 90, em Tubiacanga. A ação começou por volta das 8h e pegou os moradores da região de surpresa. Com o apoio da polícia e da guarda municipal, agentes da prefeitura chegaram ao local com um mandado judicial solicitado pela Infraero, responsável pela região, que fica ao lado da pista principal do Aeroporto Tom Jobim.

 

Yvonete Vieira dos Santos, que vive com mais cinco familiares, foi uma das moradoras que teve o imóvel demolido no terreno da Rua 90, 161.

 

– Moro aqui há 60 anos, mas a minha casa ainda é um barraquinho de madeira, como muitas casas aqui na rua já foram e por isso começamos a construir uma casa de tijolo no terreno há um ano. Meu pai sempre pagou uma taxa de imóvel ao Ministério da Aeronáutica, para morarmos aqui e agora meus documentos não servem para nada. Eles chegaram aqui como se nós fossemos bandidos. Os policiais estavam armados, foi um terror. Não recebi nenhuma notificação e ainda fui tratada como invasora. Minha irmã pegou um empréstimo de seis mil reais para construirmos uma casa decente e agora não sabemos o que fazer - conta abalada.

 

 

A Infraero informou ao Ilha Notícias que as demolições foram demandadas pelo Ministério Público Federal, que identificou invasões e construções irregulares. A empresa, disse que as construções demolidas não estariam habitadas. Esta não foi a situação de José Francisco que teve a casa onde morava com a esposa demolida e agora o casal não tem onde morar. "Consegui construir uma casa de alvenaria aqui tem cinco anos. Antes, morava em um barraco neste mesmo terreno. Eles não me deixaram fazer nada, falaram que obra estava irregular e ponto. Só tive tempo de pegar meus móveis e em dez minutos não tinha mais casa. Morava aqui com a minha esposa, que viajou para cuidar da mãe com câncer e ainda nem sei como vai ser quando ela voltar. Isso foi uma barbaridade", diz José que mora na região há 22 anos.

 

A Infraero disse ainda que as demolições na Rua 90 foram feitas para conter um processo de favelização do local e impedir que a segurança do aeroporto fosse comprometida. A empresa afirmou que outras demolições estão sendo avaliadas, porém não há data prevista para a ação.

 

José Carlos Pereira é diácono da Igreja Evangélica Deus de Promessas que estava em construção no final da Rua 90. A construção da igreja começou há um ano e estava na fase final. "Quando soube que eles estavam aqui vim correndo e parecia uma guerra. As máquinas enormes e mais de trinta guardas e policiais. Foi ameaçador. Eles disseram que iriam derrubar a igreja porque a obra era irregular e que nós fomos avisados, mas não recebemos nada", relata José.

 

A casa de três pavimentos de Reinaldo José dos Santos foi a única, entre as apontadas para demolição, que não veio abaixo. Há 50 anos morando no mesmo terreno, Reinaldo conseguiu pessoalmente impedir a demolição e não permitiu que sua família abandonasse o imóvel.

 

– Não poderia deixar que destruíssem a minha vida dessa maneira. Aqui em Tubiacanga é tudo muito difícil, durante todos esses anos, a Infraero e a Aeronáutica disponibilizaram autorizações e taxas que sempre pagamos em dia e agora elas não nos servem como comprovação de proprietário. O poder público nunca entrou aqui e agora entra querendo destruir. Se a comunidade não me ajuda fazendo pressão, aqui na porta da minha casa, eu ia perder tudo. A ação foi truculenta e ouvi dizer que querem destruir mais 60 casas no bairro. Os moradores estão em pânico. A Infraero tem que ajustar a conduta dela com a gente. Ficamos à mercê do humor de cada novo superintendente que entra e não temos regras fixas. Estamos aqui há mais de 50 anos e agora querem nos tratar como invasores? Nossas famílias chegaram aqui antes – desabafa Reinaldo.