Gente da Ilha

Índia do Amapá faz história na Ilha

Silvia Nobre Waiãpi tem uma trajetória repleta de superações e conquistas


Por André Oliveira

30/08/2019 - Edição 1952

Silvia foi condecorada com a medalha Pedro Ernesto por sua dedicação a luta pelos direitos dos indígenas
Silvia foi condecorada com a medalha Pedro Ernesto por sua dedicação a luta pelos direitos dos indígenas

De moradora de rua a Secretária de Saúde Indígena do governo Bolsonaro, a trajetória de vida da insulana Silvia Nobre Waiãpi, 42, é repleta de superações e conquistas. Ela é índia da tribo Waiãpi do interior do Amapá, que veio ao Rio de Janeiro, ainda aos 14 anos e com uma filha para cuidar, se tornou a primeira mulher indígena militar do Exército Brasileiro.

Na sexta (23), sua história de vida foi reconhecida pela Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, que por indicação do vereador Inaldo Silva (PRB), lhe conferiu a Medalha Pedro Ernesto, principal homenagem da cidade a quem se destaca na sociedade.

Aos quatro anos de idade, a pequena Silvia, da tribo Waiãpi, cujo grupo possui uma população de apenas 945 pessoas, sofreu um grave acidente na floresta provocado por um grande pedaço de madeira que lhe causou sérios ferimentos. Ela precisou ficar internada em um hospital de Macapá por quatro meses. Foi nessa ocasião que Silvia teve o primeiro contato com a cidade grande. Sem poder voltar para aldeia devido ao problema de saúde, foi criada, inicialmente, por um professor que iniciou sua alfabetização.

Depois de curada voltou à tribo onde mantinha uma boa relação com o seu pai, o cacique Seremete. Aos 13 anos deu a luz a sua primeira filha Ydrish. No ano seguinte, em 1990, buscando uma melhor qualidade vida, veio sozinha para o Rio de Janeiro. Ao chegar na Cidade Maravilhosa, sem dinheiro, se tornou por alguns dias moradora de rua.

— Eu tinha uma pedra, que acreditava que era sagrada e achei que conseguiria uma boa grana. Estava enganada e tive que desesperadamente vende-la para comer. Com aquele dinheiro eu consegui me alimentar apenas por uns dois dias. Foi aí que eu vi que tinha que levantar a cabeça e me adaptar rapidamente ao cotidiano da cidade — conta.

O primeiro emprego foi no Círculo do Livro, onde vendia livros de porta em porta. Conheceu poetas e artistas que ajudaram a se desenvolver culturalmente, ao mesmo tempo em que frequenta uma escola. Por incentivo dos professores, passou a escrever e declamar poesias. Nessa época, Silvia já morava na Ilha do Governador, região que lhe foi apresentada por um camelô, que conheceu assim que chegou a Cidade.

— Moro por mais de 25 anos aqui e não pretendo sair. Desde que cheguei à Ilha fiquei fascinada pela história da região, e principalmente pela história dos índios Termiminó e a luta deles com os Tamoios para conquistar este solo que era estratégico para escoar especiarias como pimenta e canela. Minhas filhas e netos são criados na Cova da Onça.

Depois de vendedora de livros e poetisa, ela começou a estudar teatro e teve a oportunidade de participar de diversas produções da Rede Globo, como as novelas “Uga Uga” e “A Muralha”, além de ser atleta de corrida do Vasco da Gama. Estudou fisioterapia no Centro Universitário Augusto Motta, antes de se tornar tenente do Exército.

Casada, Silvia possui três filhos, Ydrish Tanzkaya, Pedro Tamudjim,Yohana Tanzkaya e três netinhos. Com uma vida difícil e muitos obstáculos, desde a infância, a índia da tribo Waiãpi, é uma guerreira insulana. Mulher forte que venceu muitos desafios. Ela não nega as suas raízes, pelo contrário, tem orgulho delas e hoje na Secretaria de Saúde Indígena luta para melhorar a vida do índio brasileiro. É um exemplo de insulana. Silvia é gente da Ilha!