Quem gosta de ouvir uma boa história, sem dúvidas, se tornaria amigo do insulano Jorge Salles. Morador da Tauá, Jorge tem uma interessante trajetória de vida que o tornam um personagem diferente no cotidiano insulano. Já aposentado, Jorge Salles (66) é dublê do ator Antônio Fagundes e já foi militar, bancário, taxista e até árbitro de futebol. Reúne competência, profissionalismo e, é claro, boas histórias para contar.
Nascido em Blumenau, Santa Catarina, Jorge Salles viveu a infância com algumas dificuldades ao lado dos seis irmãos e dos pais Francisco Salles e Edite Oliveira. Como a maioria das crianças, carregava o sonho de ser jogador de futebol. Tentou, mas a concorrência era grande e não deu certo.
Aos 18 anos se tornou soldado da Polícia do Exército e pela primeira vez saiu de Blumenau transferido para o Rio de Janeiro. No quartel, na Tijuca, fez diversos amigos, mas a estada foi pouca e, em um ano deu baixa. Só voltou ao Rio em 1972, sem destino, para tentar melhor sorte na vida.
Sem rumo, Jorge chegou a dormir ao relento da Praça Saens Pena. Até que um “amigo de farda”, ofereceu apoio e lhe arrumou um emprego como ajudante na Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC). Foi com esse trabalho, que o catarinense conseguiu se estabilizar no Rio de Janeiro e conheceu a namorada que o apresentou à Ilha do Governador.
Em 1973, chegou a Ilha, e daqui nunca mais saiu, e nem pretende. Virou bancário e, paralelo a este trabalho, apaixonado por futebol, se aventurou na profissão de árbitro de futebol contratado pela Federação do Rio. Apitou diversos jogos amadores, de divisões de base e do campeonato carioca na década de 80. Sua última atuação foi em 1994, na partida entre Flamengo e Serrano, no Maracanã.
— A carreira de árbitro foi difícil e logo no começo quase abandonei. Fui apitar um jogo amador em Santa Cruz e o coro comeu quando um cidadão na torcida puxou um revólver. A sorte é que a confusão não tinha nada a ver comigo e fugi pela tangente — brincou Jorge, que adotou uma “mãe” nas partidas que apitava. Dizia que a mãe se chamava Olivia Palito e poderia ser xingada a vontade.
Em 1983, Jorge começou a trabalhar de taxista. Durante o exercício dessa profissão reuniu diversas histórias. Lembra de quando transportava o cantor Renato Russo, fundador da banda de rock Legião Urbana, da Rua Maraú, 56, na Freguesia, para o Centro do Rio. Durante o bate-papo com o cantor, lembra de uma frase dita por Renato: “Esse Brasil não tem jeito, eu vou ter que me candidatar a presidente para endireitar esse país”.
Jorge é conhecido como Fagundes pela grande semelhança com o ator Antônio Fagundes, da Rede Globo. Isso lhe rendeu papéis como dublê em diversas novelas de sucesso, como “Tempos Modernos”, “Amor a Vida”, “Velho Chico” e “Gabriela”, entre tantas outras.
— Já fui confundido várias vezes, inclusive na própria gravação. O ator Cauã Reimond,chegou a me chamar de Antonio Fagundes. O verdadeiro que estava por perto, quando percebeu o equívoco, caiu na gargalhada. No táxi, uma passageira achou que estava participando de uma pegadinha com o ator. São fatos engraçados que levo pela vida com alegria — conta Jorge.
Jorge Salles, ou Fagundes, é um insulano boa praça. Casado há 20 anos com Nelma e tem dois filhos: Daniele Salles e Eduardo Salles, além de dois netinhos: Felipe e Mariana Salles. É um bom amigo e está sempre feliz. É gente da Ilha.