Gente da Ilha

Gente da Ilha - Lourival Salles Paiva

Mais do que ter orgulho de ser insulano, Lourival Salles Paiva se orgulha de viver há 75 anos na casa onde nasceu, na Praia da Engenhoca, 91. Criado em uma família de pescadores, o morador mais antigo da praia lembra-se que durante toda a infância o dinheiro que sustentava a casa vinha através dos peixes e camarões pescados nas águas limpas da Engenhoca. O coração se divide entre a praia que vive e os 21 anos de trabalho na piscina da ACM. "Tinha aquela piscina como minha. Trabalhava com muito gosto porque o ambiente era de amizade e respeito, vi muitas crianças crescerem fazendo atividade ali", conta Lourival.


09/03/2012 - Edição 1562

Sempre sorridente, Lourival é o morador mais antigo de Praia da Engenhoca
Sempre sorridente, Lourival é o morador mais antigo de Praia da Engenhoca

Mais do que ter orgulho de ser insulano, Lourival Salles Paiva se orgulha de viver há 75 anos na casa onde nasceu, na Praia da Engenhoca, 91. Criado em uma família de pescadores, o morador mais antigo da praia lembra-se que durante toda a infância o dinheiro que sustentava a casa vinha através dos peixes e camarões pescados nas águas limpas da Engenhoca. O coração se divide entre a praia que vive e os 21 anos de trabalho na piscina da ACM. "Tinha aquela piscina como minha. Trabalhava com muito gosto porque o ambiente era de amizade e respeito, vi muitas crianças crescerem fazendo atividade ali", conta Lourival.

 

Filho do pescador Otávio Salles Paiva, na infância, Lourival morava com a mãe Zumira e as duas irmãs. Na Engenhoca ainda moravam os tios e os avós e ao longo dos anos, Lourival viu a população da praia aumentar e a área se desenvolver.

 

– O mar alcançava toda esta parte que hoje em dia é o calçadão, a água era limpinha e aqui era reduto de pescadores. A maioria dos moradores era de famílias que trabalhavam com a pesca. O mar aqui sempre foi calmo. Com o aterro a faixa da areia aumentou, outros moradores surgiram, mas a praia ainda conserva o jeito de vila. Há prédios somente no final. Era uma beleza poder mergulhar no mar. Lembro quando a poluição chegou aqui e a pesca foi cessando. É um sonho poder ver a água limpa de novo – conta.

 

Da adolescência, Lourival se recorda do tempo que o transporte até a Ribeira era feito por bondes e que a grande diversão aos finais de semana era frequentar o cinema Cine Jardim, na Praça Iaiá Garcia. "Dois bondes faziam o transporte pela Ilha. Um deles tinha ponto final aqui na Ribeira e outro no Bananal. O cinema fazia fila. Além de ir ao da Ribeira, às vezes pegávamos o bonde e íamos ao cinema Itamar na Freguesia. Se depois da última sessão, perdessemos o bonde, a gente voltava a pé tranquilamente. A Ilha era um sossego, ninguém sentia medo, não havia perigo", explica.

 

Ainda na adolescência, Lourival conseguiu o primeiro emprego como servente no aeroporto do Galeão, onde trabalhou por quase dez anos. Na mesma época conheceu na Praia da Engenhoca Maria das Virgens, com quem veio a se casar em 71.

 

– Maria morava em Belford Roxo e trabalhava como empregada doméstica numa casa em frente ao quiosque do Mineiro no final da praia. Lembro que a gente namorava nos bancos e a água do mar batia nas nossas pernas, quando a maré estava cheia. Ficamos casados por 40 anos, mas não tivemos filhos. Maria sempre foi ótima companheira e infelizmente a perdi no ano passado vítima de um câncer – diz Lourival.

 

O trabalho com a piscina começou no Jequiá Iate Clube, quando se desligou do emprego no aeroporto. "Comecei lá quase que na mesma época que a ACM foi inaugurada na Ilha. Lembro que o terreno onde hoje é a ACM, antes era usado para receber circos e parques que vinham para a região", conta. Foi em 1982, que Lourival entrou para a equipe da piscina da ACM.

 

– Lá eu recebia a carteirinha dos sócios, orientava sobre a roupa de banho adequada para subir e cuidava para que não houvesse nenhum problema na portaria da piscina. A relação era de amizade mesmo. A equipe de jovens me chamava carinhosamente de "meu velho". Conheço toda a velha guarda da ACM, pessoas que fazem parte da história do clube, como o presidente Peixoto, Paulo Pires, Milton da Casa Castor. Eles sempre iam me pedir um cafezinho ao final da ginástica, bater um papo. Foram anos muito bons de trabalho – conta Lourival.

 

Outra experiência que Lourival viveu na ACM foi a de ser Papai Noel para as crianças do Centro Educacional. "Durante anos fui convidado para me vestir de Papai Noel para as crianças da escola, era uma alegria para mim. Antes do campo da ACM receber grama sintética, eu também participava da festa para a chegada do Papai Noel do clube e fazia a sinalização para o helicóptero do bom velhinho pousar. Era uma grande festa", diz.

 

Lourival é uma figura simpática e sempre presente na praia. "Acordo cedo, caminho pela orla e sento na praia ou na porta de casa com meu rádio para ouvir as notícias. Vou a Ribeira para comprar pão ou ir ao mercado, gosto de conversar com os vizinhos e observar o movimento na praia", conta Lourival que durante a entrevista cumprimentava os passantes que lhe davam bom dia a todo o momento. Um exemplo de vida pacata e exemplar.