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Você se lembra do atelier flutuante?

Álvaro Xavier montou sua galeria de artes num barco ancorado na Praia da Bandeira


Por Juberto Santos

24/06/2022 - Edição 2099

Álvaro Xavier dedicou parte da sua vida no atelier flutuante pelo amor às artes e fazia a diferença
Álvaro Xavier dedicou parte da sua vida no atelier flutuante pelo amor às artes e fazia a diferença

Quem viveu na Ilha do Governador, entre as décadas de 80 e 90, com certeza, se recorda de uma grande embarcação branca e azul atracada na Praia da Bandeira: era o Atelier Flutuante, que despertava a curiosidade por conta do seu formato e por sempre permanecer naquele local. 

Tal empreendimento veio do grande artista e professor Álvaro Xavier, que veio morar na Ilha do Governador na década de 1970. Segundo sua filha, a artista e professora Ângela Scorza: “vendo certa vez um pintor pintando num barco, falou: 'Já pensou um espaço de artes num barco?' Óbvio que mamãe e eu achamos muito bizarro, mas ele foi a um estaleiro em Niterói, tomou um empréstimo bancário e fez sozinho a reforma de metade de uma embarcação. Ele comprou a parte da proa para ser a galeria”. O antigo Caça-minas da 2ª GM, agora, seria remodelado. 

Após gastar muito tempo e recursos próprios adaptando a embarcação com telhado, piso, novos revestimentos, surgiu a Galeria Flutuante de Artes Atelier Ltda, que possuía até CNPJ. Tinha cerca de 40 metros, dois andares e na proa uma varandinha com uma pia. Inicialmente ficou na Marina da Glória, depois no Bananal, e após autorização da Capitania dos Portos, ele chega em 1985 na Praia da Bandeira, de frente a um antigo cais. O projeto buscava formar artistas e desenvolver as artes plásticas na Ilha. 

O Atelier era um espaço muito frequentado e de inúmeras exposições de pinturas, esculturas, artesanato. Crianças a partir de 7, 8 anos já podiam se inscrever para oficinas e cursos livres. Havia cursos livres de pintura, desenho, modelo vivo, preparação para vestibular, pintura para crianças. Jovens faziam rodas de música e de conversas, ou seja, inúmeras atrações. As aulas ocorriam no deck de entrada do barco, na ligação da popa com a rua, além de ser um ponto de encontro de muitos artistas era um local sempre com a brisa do mar calmo, cercado de aves e ótimo para relaxar. Na entrada havia uma placa de aviso: “Não pode entrar de calção, nem molhado”. Na sua lateral, depois foi escrito bem grande: “Atelier Galeria”. 

Sua filha relata que, uma vez, pessoas entraram no local pensando que ali era um tipo de restaurante diferenciado. O barco sempre impactava moradores e turistas. 

O Sr. Álvaro faleceu em 1994 e a família buscou seguir com o projeto. Para atrair a juventude e gerar renda, o local seguiu com diversos cursos e teve até fliperamas, os quais eram muito apreciados pelos jovens nos anos 90, contudo, a embarcação começou a sofrer com a ação do tempo e a família não conseguiu apoio financeiro de empresas ou órgãos públicos para ajudar a manter o espaço funcionando. O famoso “Barco do Xavier” teve as atividades encerradas em 2000. O Atelier Flutuante adernou pela constante entrada de água e foi sendo desmanchado com a ação das marés. Hoje, ainda é possível ver as ruínas do seu casco no local, próximo à esquina da Rua Altinópolis. 

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