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Os autistas e o isolamento social

Crianças e adolescentes sofrem com as mudanças de hábitos e uso da máscara


22/05/2020 - Edição 1990

João Vitor, ao centro, está sempre cercado pelo carinho e amor dos familiares
João Vitor, ao centro, está sempre cercado pelo carinho e amor dos familiares

A necessidade do isolamento social tem sido um grande desafio para famílias insulanas que possuem crianças e adolescentes com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Segundo especialistas, a mudança da rotina, provocada pela pandemia do novo coronavírus, para uma criança autista que possuía uma agenda diária de atividades, inclusive ao ar livre, pode ser danosa e gerar estresse, ansiedade, agitação, tédio e entre outros sintomas potencializadores do transtorno.

A dificuldade na adaptação diante deste cenário é comum e causa na criança uma sensação de insegurança. Predomina o sentimento de frustração, já que algo pré-definido não irá mais acontecer. O insulano Bruno Oliveira vive na prática essa situação. Ele é pai do João Vítor, de 16 anos, que possui o transtorno autista.

— Está sendo bem difícil manter o João em isolamento social. Há uma dificuldade enorme dele em assimilar o motivo de não poder sair. E isso prejudica o ensino. Ele não consegue sentar-se na frente do computador para assistir as aulas online. O que eu faço para tentar aliviar essa ansiedade é dar uma volta de carro, passar pelos lugares que costuma frequentava e mostrar que está fechado e não tem como entrar. Isso ajuda um pouco. Mas o grande medo é de quando o isolamento terminar, ele ficar resistente para a antiga rotina — afirma Bruno.

Com o apoio da mãe, Guilherme mantém a alegria

Outro grande problema é com relação aos cuidados básicos necessários para a proteção ao covid-19, como a questão da higienização constante e o uso de máscaras. Pessoas com autismo tendem a apresentar dificuldades sensoriais e comportamentais. O contato, por exemplo, da máscara com a pele causa uma sensação de sufocamento. Cristiane Maria, mãe do Guilherme Silva, de 11 anos, afirma que é praticamente impossível cumprir integralmente a quarentena.

— A grande preocupação é essa. O Gui é superativo e o nível de estresse que ele atinge ficando dentro de casa é muito grande. Quanto a máscara, sem condições. Eu coloco, ele tira, coloco novamente, ele joga fora e ficamos nessa difícil situação — relata a mãe.

De acordo com a psiquiatra infantil e pediatra Aline Mussuri, especializada em crianças com o transtorno autista, em algumas famílias foi necessário reajustar a medicação, justamente por causa do enclausuramento. “Principalmente as crianças que moram em casas pequenas e viviam uma rotina superativa estão sofrendo para se adaptar. Crises, agitações e agressividades são comuns. Destaco a garra e habilidade que algumas mães estão tendo para driblar esse imprevisto e manter o filho na quarentena”, elogiou.

Para a fonoaudióloga Daiane Waichel, especialista em atendimento a crianças autistas, novos procedimentos serão adotados. “Sem as terapias e aulas, haverá uma regressão na socialização, e isso vai motivar a criação de novos métodos e rotinas para acelerar a recuperação, ou seja, teremos um importante avanço nas técnicas a serem aplicadas nos consultórios, salas de aula e no convívio familiar”.