Opinião

Opinião - José Richard

Pandemia pegou de surpresa as gerações mais novas, cujas tragédias epidêmicas existiam apenas pela ficção nas telas de cinema


Por José Richard

05/06/2020 - Edição 1992

Cena do filme "Epidemia", de 1995
Cena do filme "Epidemia", de 1995

Penso nos homens e mulheres fortes e corajosas que nasceram perto da segunda década do século passado e hoje estão com cerca de cem anos de idade, – grupo que, aliás, é cada vez mais numeroso – e sobreviveram por duas guerras mundiais e a gripe espanhola, epidemia que se espalhou por todos os países por volta de 1918 e levou à morte mais de 50 milhões de pessoas em todo planeta. Eles agora passam por mais esta pandemia. É coisa para guerreiros.

Mas essa situação de pandemia que vivemos e que pegou de surpresa toda humanidade é um novo desafio, sobretudo as novas gerações, cujas tragédias epidêmicas existiam apenas pela ficção nas telas de cinema que tentam dramatizar o horror e as perdas nessas ocasiões. Quem assistiu algum desses filmes suspirou aliviado no final ao voltar para a realidade. Agora, entretanto a ficção passou a ser a realidade e acordamos todos os dias para viver um pesadelo inacreditável e uma rotina de tensão e medo, bombardeada por notícias de gente doente, desempregados e outros que perderam seus negócios.

Temos que ser fortes e controlar os nervos vivendo cada dia dentro dos limites que nos é possível dependendo da idade, condições econômicas e de saúde. O ideal seria o calendário pular esse tempo de preocupações. Como não é possível, vamos criar condições de vida dentro desses espaços individuais em casa ou no trabalho para nos adaptarmos aos novos tempos que certamente nos farão pessoas melhores pela experiência de resignação diante da perda de tantas vidas em nosso país.

O sofrimento e perdas podem ser considerados como testes da nossa capacidade de enfrentar com coragem situações que nossos pais e avós já experimentaram e resistiram, nos dando vida e responsabilidade para criarmos um mundo melhor para nossos filhos e netos.