Gente da Ilha

Insulano de 99 anos é ex-combatente

Mário esteve na Itália, como integrante da FEB durante a 2ª Guerra Mundial


Por André Oliveira

19/02/2021 - Edição 2029

Mário Pereira guarda lembranças do pós-guerra
Mário Pereira guarda lembranças do pós-guerra

Aos 99 anos de idade, as memórias da época de juventude seguem claras e suas histórias servem de inspiração para as novas gerações. Com o sentimento de dever cumprido, o insulano Mário Pereira é um dos sete cariocas vivos que são ex-combatentes da 2ª Guerra Mundial, membros da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que tiveram a missão de defender o Brasil na Itália. O insulano lembra com riquezas de detalhes os momentos pré, durante e pós-guerra, no auge do conflito na década de 40.

Entre as lembranças, ele se emociona ao recordar com orgulho dos amigos e dos conflitos que a guerra provocou. Mário diz que não tinha intenção de seguir carreira no Exército e estava pronto para dar baixa no quartel, pegar o certificado e ir para casa. No entanto, a rivalidade da guerra aflorou e os interesses da nação brasileira fizeram com que fosse necessária a presença do Brasil em combate. O resultado foi que as dispensas foram canceladas e o boletim do regimento informava que ele estava convocado para defender o país na Itália.

– Naquele tempo eu era um “pracinha”, agora sou uma peça de museu da guerra. Tenho muita história para contar, afinal tenho 99 anos. Não tinha para onde fugir, era encarar a realidade e buscar sobreviver durante o conflito – conta.

O tempo de preparação, segundo Mário Pereira, foi bem curto e a maioria dos combatentes tinham que aprender rapidamente a sobreviver na guerra. Ele conta que recebeu treinamento para viver em mata fechada, terreno pantanoso e água, mas confessa que precisou de muita coragem para lutar pela própria vida defendendo o nosso país. Muitos amigos de farda morreram durante os conflitos e um dos principais adversários era a distância da família, a fome e o frio.

— Tinha um problema grande de contaminação dos alimentos, e isso dizimou muitos combatentes. Inclusive, na volta para o Brasil, eu cheguei com uma dor muito forte no estômago, algo que até hoje me arrepia por não ter sentido nada parecido na vida, e achei que partiria. Graças ao bom Deus consegui me recuperar e hoje sou a história viva — conta Mário.

Ter participado da FEB é um orgulho para Mário Pereira. Ele se sente à vontade para relembrar os fatos e tem uma memória bastante viva. Em sua casa, no Jardim Guanabara, guarda com carinho bonés, certificados, símbolos, e acessórios que relembrem a guerra, como um emblema da Força Expedicionária, que ironiza a expressão “A cobra vai fumar”, criado por brasileiros brincalhões que diziam que era mais fácil ver a cobra fumando do que o Brasil entrar na guerra.

Prestes a festejar cem anos, o insulano vive a vida com alegria e muito feliz pelo seu legado que construiu, e a consciência de ter participado de um dos momentos mais marcantes da pátria. Mário Pereira, você é um insulano que orgulha a todos nós moradores da região.