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Crise de energia afeta todos os bairros da Ilha

Light minimiza, diz que controla apagões para evitar colapso total na rede e prevê apagões ainda por mais 9 meses, além de obras até 2025


Por André Oliveira

18/01/2024 - Edição 2181

Desde a última sexta-feira (12), os insulanos estão sendo impactados por uma grave crise no fornecimento de energia devido à falta de manutenção preventiva, que deveria ter ocorrido nos últimos anos, das subestações que alimentam os domicílios e o comércio local. O sistema original e principal está em colapso total. Os cabos de transmissão de energia com mais de 50 anos de uso não suportam mais a demanda de carga da Ilha do Governador e precisarão ser substituídos. Enquanto isso, um sistema auxiliar está sendo montado pela Light, mas ainda é insuficiente para alimentar os mais de 70 mil clientes da concessionária na região.  

Em meio a esse grave problema, estão as constantes interrupções de energia na região. Todos os dias há diversos bairros que ficam sem luz por horas. Revoltados, insulanos alegam prejuízos diários e a má qualidade do sono, interrompido pela onda forte de calor do verão carioca. A ausência de energia, inclusive, afeta a entrega de outros serviços essenciais para a população como a água. Sem energia nas elevatórias, a água não chega nas casas. Como é o caso da insulana Andrea Biancardi, moradora do Jardim Carioca. Sem água e sem luz, a situação fica insustentável.  

— Essa situação vem nos deixando muito revoltados e saber que vai se perdurar até outubro é desesperador. Não conseguimos ter uma noite de sono reparadora. Na madrugada e quinta-feira (18), quando foi 4 horas da manhã a luz faltou novamente e só foi voltar já era 7h, já na hora de levantarmos para enfrentarmos nossos desafios e compromissos diários. A água já é preocupante, e estou tendo que monitorar todo dia, porque sem energia, a água não vai chegar por aqui — afirma Andrea Biancardi. 

O engenheiro insulano Wagner Victer, morador da região há mais de 50 anos, explica que a situação é crítica e que deve durar ainda alguns meses e se agrava, especialmente em dias de extremo calor, em que o consumo de energia aumenta nas casas e comércios. Ele diz que houve um erro de planejamento da Light e os cabos que abastecem a energia da região que são potentes, deveriam ter sido trocados e não foram.  

— Com evento extremo de calor, a carga interna aumenta e os cabos que trabalhavam com capacidade de 500 amperes, que é uma unidade de corrente, estão desarmando. A solução encontrada pela Light foi reduzir para 400 amperes, então desligou alguns grandes consumidores e estão substituindo por geradores, como é o caso do Aeroporto do Galeão e até mesmo de toda Ilha de Paquetá. Já são mais de 30 geradores espalhados pela Ilha do Governador em séries de pontos para aliviar a carga que é transferida nesses cabos. A Light faz um monitoramento ao longo dia e quando chega próximo a 400 amperes, faz um desligamento seletivo de carga. E precisa fazer isso para não desarmar toda a Ilha e não comprometer ainda mais o cabo — informa Wagner Victer.  

A grande preocupação gira em torno de pessoas acamadas, doentes, que precisam de cuidado 24 horas para poder continuar respirando. O calor extremo e atrelado a falta de energia, algumas horas é fatal para essas pessoas. Uma idosa, de 96 anos, acamada, moradora da Rua Érico Coelho, no Tauá, foi obrigada a ficar em casa num calor extremo, aonde a sensação térmica chegou a 59,5ºC. Ela necessita de energia elétrica para cama hospitalar funcionar e de medicamento refrigerado. O jeito encontrado pela família foi retirar a idosa da Ilha e ficar alguns dias na casa de parentes fora da região.  

Já para o comércio, especialmente as empresas do ramo de alimentos, os prejuízos com perda de produtos perecíveis e o não funcionamento da loja pela ausência de energia, já que nada funciona, nem mesmo a maquininha de cartão, são gigantes. Muitos alegam que o faturamento em janeiro já é bem mais abaixo do que o habitual nos meses anteriores, e com essa queda de luz constante, vai ser bastante complexo fechar as contas no final do mês, que incluem pagamento de salário de funcionários.  

— Nesses dias eu já perdi 15 mil reais em faturamento e cerca de mil reais em produtos. A conta no final do mês vai ser bastante alta. É um constrangimento muito grande. Sem energia não conseguimos fazer nada. Não conseguimos dar o atendimento que estamos acostumados para nossos clientes. É preciso que a concessionária resolva isso definitivamente — Marcos Pinheiro, proprietário do Bistro Rio’s e Tratoria Rio’s, restaurantes da Rua Cambaúba, no Jardim Guanabara.  

A concessionária Light, na quarta-feira (17), anunciou que a situação persistirá pelos próximos dois meses. O diretor da empresa, Vinícius Roriz, explicou que a primeira fase do trabalho de substituição do sistema original está em andamento e uma montagem de um sistema auxiliar, que precisa ser desligado em caso de superaquecimento, faz com que haja uma seletividade de cargas e seja necessário a interrupção da energia em alguns bairros. A substituição completa do sistema original está planejada em três etapas e só deve ser concluída em 2025. A segunda fase tem previsão de término em outubro deste ano e os insulanos terão que conviver com obras e mais obras espalhadas por toda a Ilha do Governador.