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Canhão histórico “sangra” na Praia da Bandeira

É incompreensível o abandono de local histórico que deu nome ao bairro


Por Juberto Santos

18/06/2021 - Edição 2046

Em 1979, o local histórico ainda era bem cuidado // Foto: Arquivo Jaime Morais
Em 1979, o local histórico ainda era bem cuidado // Foto: Arquivo Jaime Morais

Quando pessoas caminham pela orla da nossa Ilha do Governador há muitas belezas em nossas praias há cenários maravilhosos com barcos, pontes de pescadores, além de monumentos históricos. Na coluna de hoje trago um breve histórico do Canhão da Ponta do Tiro, na Praia da Bandeira.  

Você sabia que é por conta dele a praia e o bairro ganharam seu nome? Ao longo da década de 1920, naquela região, existia uma importante escola (8ª Escola Mista do 23º Distrito). Por não existir um espaço para os momentos cívicos, uma professora pediu ao seu pai que ajudasse nessa questão. A senhora Ubaldina Dias Jacaré foi a responsável por buscar ajuda em resolver essa carência. Seu pai, o Major Dias Jacaré, junto com outros moradores e parcerias, construíram um espaço próximo da réplica de um forte com um suporte para hasteamento da Bandeira Nacional.  

Já o canhão foi inserido depois, vindo de uma área da Freguesia, que muitos acreditam ter sido usado na antiga Revolta da Armada, que ocorreu no Rio de Janeiro em 1873 com alguns combates atingindo a região da Ilha. Com o tempo, o local passou a se chamar Ponta do Tiro, mas essa nomenclatura era empregada em outro ponto próximo, na área da antiga fábrica de Formicida. Aos poucos, a maior parte dos moradores passou apenas a conhecer por tal nome apenas a área do canhão. 

Quatro décadas depois, o local está abandonado

O espaço sempre atraiu pescadores, famílias, enamorados, casais, visitantes. Ali existia um mastro bem bonito em seu suporte de cimento, dois bancos de pedras e a mureta lembrando bem um forte que ajuda na segurança, como podemos perceber na foto tirada em 1979 e postada na comunidade do Facebook do professor e pesquisador Jaime Morais. Contudo, com os anos, houve o esquecimento, abandono e o descaso cresceram. Triste realidade desse e de outros espaços do patrimônio histórico material de nossa Ilha. O mastro foi cortado, o suporte vandalizado, os bancos quebraram e não foram repostos. Parte da mureta caiu e não foi reposta, parte do chão próximo ao canhão afundou e abriu uma cratera. O canhão está corroído pela ferrugem e, nas chuvas, esse “sangue” escorre pelo chão até mar. 

Agora, o local se mostra muito perigoso para quem queira frequentá-lo. Para os insulanos, há uma soma de tristeza e revolta que só cresce.  

Os anos se passam, as promessas se repetem, mas há décadas o espaço não tem o devido cuidado e restauro. Uma pergunta para as nossas autoridades: “Será que é tão caro ou difícil assim recolocar dois bancos, o suporte e o mastro bem alto, a parte destruída da mureta, refazer o piso e retirar o excesso da ferrugem do estimado canhão?” Sempre comento que, se o espaço for revitalizado como antes, eu mesmo doarei a Bandeira Nacional para ser novamente hasteada.  

A antiga Praia da Tapera passou a se chamar Praia da Bandeira por conta desse ponto turístico. Em 23 de julho de 1981, o bairro da Ilha do Governador foi oficialmente extinto, por conta de uma nova lei municipal surgindo 14 bairros e, dentre eles, o bairro da Praia da Bandeira. Viva a Ilha e suas muitas histórias!