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Bom humor e vitalidade aos 96 anos

Maria José Ribamar veio do Maranhão em 1936 e fez da Ilha o seu lugar


04/09/2020 - Edição 2005

Maria José (centro) ao lado da sobrinha Ângela Maria e a filha de criação Mariza
Maria José (centro) ao lado da sobrinha Ângela Maria e a filha de criação Mariza

A insulana Maria José de Ribamar, moradora do Moneró, curte os seus 96 anos e esbanja muita alegria de viver com disposição, bom humor e extrema lucidez. Nascida em 1924 quando o mundo ainda vivia a tensão pós-pandemia da gripe espanhola, ela garante que vai passar pela Covid-19 com saúde. “Por essa de agora eu sei que passo, posso ir na próxima, mas nessa não”, brinca.

O nome José de Ribamar é uma homenagem ao santo de um município no interior do Maranhão, onde Maria nasceu. Aos 12 anos, ela veio com a madrinha de navio para o Rio de Janeiro, em uma viagem difícil em que passou mal durante todo o percurso. Ao chegar na Praça XV mais uma surpresa. Teria que pegar novamente uma barca para chegar à Ilha do Governador, já que ainda não havia ponte. Em dezembro de 1935 eis que Maria José chega a Ilha para nunca mais sair. “Foi uma paixão à primeira vista,” diz ela.

— Aqui era tudo uma paz de espírito, algo divino. Uma delícia mesmo. Parecia que era uma Ilha de fato descolada da outra parte do mundo e com uma tranquilidade invejável. Lembro que fui trabalhar na casa do doutor Aderbal e da dona Carmen na Freguesia; O trabalho era tomar conta de dois meninos, mas eu aproveitava bem à beira da praia, pescava bastante, tomava banho, era tudo limpo. Tinha até tarioba. A Ilha era local de veraneio, vinham artistas alugar casas e passar os finais de semana. Hoje em dia não vemos mais isso. Tudo se acabou — conta Maria, com saudosismo.

Na época os deslocamentos dentro da Ilha ainda eram feitos por bondes e não havia água encanada, mas Maria garante que dava para se virar e viver bem, os vizinhos se ajudavam, era tudo uma grande amizade. De acordo com ela, tudo era comprado em quitandinhas, não tinha os supermercados. No morro do Dendê na década de 40, de acordo com seus relatos, contava-se nos dedos as casas e os moradores. Em junho, os insulanos subiam lá para pegar flor de Marcella, característico da região para fazer travesseiros. “Hoje em dia não sobrou nadinha daquela época”.

Ela lembra de uma história que rondava os bairros da região. Era de um homem alto, forte, chamado Manoel Munhoz, que virava lobisomem. Uma vez voltando do baile do Cocotá com um grupo de amigos garante ter visto ele correndo para dentro do mato rosnando. “Ficamos com um medo danado, e demos no pé”.

Funcionária aposentada do Estado, Maria mantém a mesma rotina há décadas. Acorda todos os dias às 6h, coloca o café para coar, pega o radinho de pilha, liga na Rádio Tupi e vai para varanda curtir o amanhecer no Corredor Esportivo. A hora do almoço é sagrada e a cervejinha ao longo do dia também não pode faltar. Dona Maria José Ribamar é uma insulana de muita fibra, humilde e carismática que enxerga e vive o lado bom da vida. Uma vencedora que segue firme e forte rumo ao centenário, com a sua rotina e histórias.