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Baía de Guanabara resiste à poluição

Vida marinha ainda é rica, mas espécies como os botos estão em extinção


17/07/2020 - Edição 1998

Boto-cinza, um dos símbolos da Baía de Guanabara, corre risco de extinção // Foto: Acervo/MAQUA-Uerj
Boto-cinza, um dos símbolos da Baía de Guanabara, corre risco de extinção // Foto: Acervo/MAQUA-Uerj

Apesar das inúmeras agressões ocasionadas pela ação humana durante as últimas décadas, a Baía de Guanabara, que cerca a Ilha do Governador, resiste e apresenta uma grande diversidade biológica. Ainda há na Baía uma vida marinha rica, porém o que está em risco, de acordo com especialistas, é o chamado estoque pesqueiro. Várias espécies vivem nessas águas, só que em menor quantidade.

No início do mês, chamou atenção dos insulanos, de maneira triste, a notícia da morte de um boto-cinza, que foi encontrado às margens da Praia da Guanabara, na Freguesia, por pescadores. Esta espécie de cetáceo carrega uma importância simbólica ao ponto de estar no brasão da Cidade. Há três décadas era comum ver esses botos, mais próximos das praias da região. No entanto, a forte poluição na Baía de Guanabara, de acordo com o Laboratório de Mamíferos Aquáticos e Bioindicadores (Maqua), da UERJ, reduziu drasticamente a população.

— Nosso monitoramento, que ocorre desde o início da década de 90, aponta para pouco menos de trinta botos que fazem parte desta população da Guanabara. Só nos últimos dias morreram duas fêmeas, uma na Freguesia e outra em Paquetá. Estamos falando de uma espécie residente da Baía de Guanabara e que já foi de mil botos. Esta espécie ocupa o topo da cadeia alimentar e são considerados sentinelas ambientais. Se extintos, teremos um desequilíbrio marinho em toda a Baía — analisa Rafael Carvalho, que faz parte do Maqua.

Além do boto-cinza, é possível encontrar na Baía de Guanabara animais como, a tartaruga verde, cavalo marinho, raia-borboleta e camarão, entre tantas outras que somam mais de cem espécies de peixes. Não é nenhum absurdo afirmar que a Baía ainda respira sem ajuda de aparelhos, mas não há como negar a influência da poluição que lentamente vai colocando essa vida marinha em risco de extinção. De acordo com o ecologista insulano Sérgio Ricardo, um dos líderes do movimento Baía Viva, é altamente contraditório o Rio de Janeiro da década de 70 ser o segundo maior produtor de pescado do país e hoje ter essa biologia marinha ameaçada.

— O Rio de Janeiro sacrificou a Baía de Guanabara ao ponto da pesca artesanal, que poderia ser uma grande geradora de empregos na cidade, caso tivesse uma cadeia produtiva de pesca organizada, estar ameaçada de extinção. A expansão ilimitada da indústria petroleira, após a descoberta do pré-sal, tem inferência direta nisso – garante Sérgio.